Dra. Regina Matielo
Médica
13 fevereiro, 2019
VAI DAR MAMÁ?
Alimentar o bebê é uma das atividades mais
importantes de uma mãe, se é que podemos “ranquear” os afazeres da maternidade.
Existem muitas coisas pra se falar por aqui, sob vários aspectos e pontos de
vistas, mas quero começar pelo mais básico: a amamentação. Vamos lá?
Desde a gestação você já se prepara para amamentar.
Mandaram tomar sol pela manhã, mesmo que seja no apartamento com a janela
aberta ou na varanda (cuidados com os vizinhos!!!), passar bucha nas aréolas
durante o banho (ai!), já ouviu dizer que tem que passar limão, creme disso,
creme daquilo…. Certo? E aí? Será que funciona?
Algumas dessas coisas são ainda recomendadas pelo
próprio ginecologista, outras proibidas… Mas hoje a gente sabe que: NADA deve ser feito!
O que eu vejo na prática é que o começo é difícil
mesmo: a produção de leite está começando, o bebê está aprendendo a mamar, e a
mamãe ainda está num carrossel de hormônios…
Sei que você já leu tudo sobre amamentação e quer
muito amamentar. Mas o que você não quer acreditar é que precisa de adaptação.
Sabe, 99% das mães, principalmente as de primeira viagem, precisam de adaptação
com seus bebês.
De uma
maneira bastante otimista, acredito que 10% dos bebês já nascem sabendo. O que
posso perceber é que geralmente suas mães são mais tranquilas e confiantes, mas
tenho lá minha teoria de que elas ficam assim depois que percebem que seu bebê
deu conta do recado. O mais comum é a mãe se preocupar com esse momento.
Lá vou eu de novo: Calma! A natureza é sábia e tudo
vai dar certo! Quem pensa assim tem muita chance de acertar… Só é necessário
tempo, calma, persistência e fé…
(Sim…. A partir do momento que você se envolve na
maternidade você passa a entender melhor o significado da palavra fé. Essa
certeza interior que você tem - e você nem sabe de onde ela vem - é o que lhe
tranquiliza e lhe faz perseverante... Somos tão imediatistas que esquecemos da
fé.)
No começo seu bebê vai abocanhar seu peito e você
vai precisar ajudá-lo a abocanhar toda a aréola com sua mão (lembra da técnica
do C?). Ele com fome e você se sentindo como na primeira prova de matemática,
onde você sabia que só tinha um jeito de resolver a questão e puxa! Não chegava
no resultado correto… E quando finalmente seu bebê abocanha o peito: dói!
Pronto! Então, você lembra que alguém falou pra você que o jeito correto de
amamentar não dói e então você se sente reprovada… Não é assim?
Às vezes dói mesmo, principalmente no começo. Esteja
atenta no jeito que você e seu bebê se comportam durante as amamentações para
que seja possível a adequação da técnica evitando a dor.
E depois, vai parecer que seu bebê quer mamar o
tempo todo! Você se lembra que alguém orientou livre demanda, mas no seu caso
parece demanda contínua!!!
Deixa eu contar algumas coisas antes da primeira
visita do seu bebê no pediatra: o leite que você começa a produzir é exatamente
próprio para o seu bebê e nos 10 primeiros dias você vai produzir bastante
colostro, enquanto, vamos dizer assim, amadurece o leite.
O colostro parece um leite ralinho, mas ele é
riquíssimo em proteínas e proteções para seu bebê: ele tem concentrações
aumentadas de imunoglobulinas, exatamente porque seu bebê acabou de nascer e
ainda não tem defesa imunológica suficiente. E logo você vai perceber que o
leite vai ficando mais branquinho, as vezes parece até meio amarelado… Aí está
o leite maduro, com proporções adequadas de proteínas, calorias, gorduras,
imunoglobulinas e outros componentes que colaborarão não só para o crescimento
do seu bebê como também para o desenvolvimento dele. Tem substâncias que são
próprias para ir adequando o intestino aos alimentos, outras que vão ajudar a
amadurecer o cérebro, tem quantidade suficiente de água que manterá seu bebê
hidratado, e, de tão perfeito e tão fácil absorção que tem, às vezes você vai
perceber que seu bebê quer mamar o tempo todo e pode passar alguns dias sem
evacuar (como se não sobrasse “restos" para compor o bolo fecal,
entende?).
Enquanto o bebê está dentro da barriga da mamãe, ele
é alimentado continuamente através da placenta. Sentir, entender e lidar com a
fome pra alguém tão novinho e com tanta novidade a sua volta é difícil, daí a
necessidade contínua de mamar. Tanta coisa pra aprender, que, nas
primeiras semanas de vida, seu bebê não vai saber sequer manter a glicemia
(taxa de açúcar no sangue) sempre em valores normais, e você vai ter que
amamentá-lo inclusive durante a madrugada enquanto espera ele adquirir essa
capacidade sozinho, com o tempo.
E o mamilo (aréola) vai machucar? Provavelmente -
digo quase com certeza - sim. E o que fazer?
Tenha por hábito, sempre após amamentar, passar um
pouco do próprio leite ao redor dos mamilos, para ajudar na hidratação da pele
local. Se está muito machucado, dê um tempo no mamar: tente ordenhar o leite ou
ofereça só o peito que não está machucado e vá passando leite no local. Logo
cicatrizará. Pomadas de lanolina pura também ajudam. Converse com seu
ginecologista ou com o pediatra do seu bebê para que seja orientada da maneira
que precisa.
Passada essa fase de adaptação, você verá que
amamentar é, em disparado, melhor e mais fácil do que lançar mão das fórmulas
lácteas. E você vai curtir. Seu bebê então, nem se fale!
O segredo é sempre o mesmo: calma! A natureza é
sábia! Acompanhar de perto o ganho de peso do bebê, bem como a necessidade de
trocar as fraldas com frequência são excelentes indicadores de que a
amamentação está indo bem.
O que mais pode ajudar nessa delicada fase é a
colaboração: dos familiares em ajudarem nas tarefas do lar e apoiarem a nova
mamãe (portanto: não se acanhe em pedir e explicar o que você precisa - diga o
que está sentindo!) e do pediatra que fará o suporte e terá condições técnicas
para avaliar como está indo a amamentação e vai saber orientar e corrigir o que
for necessário, esclarecendo as dúvidas.
Se precisar, estou por aqui...